"Psicanálise dos Contos de Fadas"

«Era uma vez um leitor, curioso sobre a história dentro de um livro. Era uma vez um livro, curioso sobre os olhos daquele leitor. Era uma vez a história de um. Era uma vez a história de outro. Mas porque alguém tinha de dar o braço a torcer, o livro rendeu-se e começou o primeiro capítulo. Os livros sempre se rendem: não é a toa que eles capitulam.» Rita Apoena


Notas da minha leitura
"Psicanálise dos Contos de Fadas"
Bruno Bettelheim
Lisboa, Bertrand Editora, 1991

As histórias de contos de fadas são muito mais importantes para o desenvolvimento das crianças do que se pode supor por mera intuição. Ao mesmo tempo em que as divertem, os contos também as esclarecem sobre si próprias e favorecem o desenvolvimento de sua personalidade. Logo, os contos de fadas são portadores de mensagens importantes para o psiquismo consciente, pré-consciente ou inconsciente, qualquer que seja o nível em que funcionem. Lidando com problemas humanos universais, especialmente com os que preocupam o espírito da criança, as histórias falam ao seu ego nascente, encorajando o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, aliviam tensões pré-conscientes ou inconscientes.Cada história é apropriada a uma fase de desenvolvimento específico da criança, e ela irá se identificar com aquela que naquele momento lhe fala diretamente ao inconsciente e lhe auxilia a solucionar os problemas de crescimento pelos quais está passando.
Mas como não é possível saber exactamente em que idade um determinado conto de fadas é importante para uma determinada criança, não podemos decidir qual dos muitos contos deverá ser contado em determinado tempo ou porquê. Só a criança pode determinar isso, através da força das emoções com que reage ao que um conto evoca no seu consciente ou inconsciente.

Há uma altura certa para as experiências de crescimento, e a infância é a altura para aprender a transpor a imensa brecha entre as experiências interiores e o mundo real. Os contos de fadas podem parecer absurdos, fantásticos, assustadores e totalmente inacreditáveis para o adulto desprovido da fantasia dos contos de fadas na sua infância ou que tenha reprimido essas lembranças. Um adulto que não tenha conseguido uma integração satisfatória dos dois mundos, da realidade e da imaginação, fica desconcertado com estes contos. Mas um adulto que na sua vida tenha sido capaz de integrar uma ordem racional com a lógica do seu inconsciente será receptivo à maneira como os contos de fadas ajudam a criança na sua integração. Para a criança e para o adulto que, como Sócrates, sabe que ainda há uma criança no mais sábio dos homens, os contos de fadas revelam verdades sobre a humanidade e sobre cada um de nós.

À sua maneira, o conto de fadas adverte contra o facto de a criança levar longe e depressa demais os seus sentimentos de raiva. Uma criança cede facilmente ao seu aborrecimento com alguém que ela estima ou à impaciência quando a fazem esperar; ela tende a albergar sentimentos de raiva e a deixar-se embalar por desejos furiosos, pouco se importando com as consequências, caso estes desejos se transformem em realidade. Muitos contos de fadas realçam o trágico desfecho de tão irreflectidos desejos em que nos empenhamos, porque desejamos demasiadamente algo ou porque não podemos esperar até que as coisas aconteçam no seu devido tempo. Ambos os estádios mentais são típicos da criança. Duas histórias dos irmãos Grimm podem ilustrar o caso.

Durante a maior parte da história do homem, a vida intelectual da criança (além das experiências mais imediatas no seio da família) dependia de histórias míticas ou religiosas e de contos de fadas. Esta literatura tradicional alimentava a imaginação da criança e estimulava a sua fantasia. Simultaneamente, uma vez que estas histórias respondiam às perguntas mais importantes da criança, constituíam o principal agente da sua socialização. Mitos e lendas religiosas (que com eles estão intimamente relacionados) ofereciam material com o qual as crianças formavam os seus conceitos sobre a origem e a finalidade do mundo e sobre os ideais sociais que poderiam imitar.

Vou continuar a leitura do meu livro e continuar a tirar notas...´
Aída Suárez

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